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Reflexão a respeito das UC 1 a 4 -
Do contexto de intervenção da formação ao planeamento das atividades de formação

 

25 anos de formadora é tanto, mas tanto o impacto em mim. Sei hoje que gosto mesmo do que faço!

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     Depois de me licenciar em Gestão de Recursos Humanos, decidi frequentar, na Confederação de Agricultores de Portugal, o curso de Formação Pedagógica Inicial de Formadores, obtendo um Certificado de Aptidão Profissional (CAP), hoje Certificado de Competências Profissionais (CPP).

       
 Passados meses telefonaram-me da Confederação de Agricultores de Portugal perguntando se queria frequentar o Curso de Coordenação da Formação. Lembro-me de ter perguntado: “E quanto se paga para frequentar o curso?” E do outro lado da linha ouvi: “80 contos.” Fiquei desolada e respondei: “Desculpe, gostava muito, mas é muito dinheiro para mim, pois encontro-me sem trabalho.”

 

       Nunca mais me esqueço do que o meu futuro colega de trabalho (mal sabia eu) me disse: “Vê o que consegues fazer, vais gostar, aprender muito, conhecer pessoas que valem a pena, ter uma formadora fantástica e dar o dinheiro por muito bem empregue.” Pensei logo, vou falar com a minha mãe, pois com 1000 caracóis quero mesmo fazer este curso, já mora em mim o bicho da formação.

 

A minha passagem pela Confederação de Agricultores de Portugal

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       Mal sabia eu que o curso de formação que ia frequentar e as pessoas que ia conhecer mudariam o rumo da minha vida de tal forma, que passados 24 anos ainda sou formadora.

 

        Andamos, andamos de carro e pensei: “Mas onde fica, o Centro de Formação Agrícola de Almeirim?” “Onde o Judas perdeu as botas e não as encontrou?” Mas espantem-se que local maravilhoso encontrei.

      No meio do campo, onde se ouviam os pássaros, rãs, tinha a visita de lagartixas, a companha de árvores centenárias, verde a perder de vista. Paraíso perdido!

        Se a isso juntarmos o facto de ter encontrado pessoas que me fizeram, desde a primeira hora, sentir em casa, que afortunada me sinto. Sim, sinto no presente, porque me fez apaixonar pela formação.

 

       Trabalhei 14 anos no Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC), onde conheci gente que, depois de um dia de trabalho, com famílias e sem receberem um escudo, ou cêntimo que fosse (para quem possa pensar que as pessoas iam pelo dinheiro), iam a Paço dos Negros, Almeirim, Alpiarça, Salvaterra de Magos, Benavente, Coruche, Azinhaga, Golegã, Carregueira, Chamusca, Ulme, Torres Novas, Porto Alto, Cadaval, Murteira, Santarém, conforme a sua área de residência, de acordo com um horário definido, frequentar o RVCC. Gente embutida de uma vontade de melhorar de vida e aprender.

 

           São tantas as estórias que trago comigo. Se me permitem, partilho uma.

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         A Confederação de Agricultores de Portugal estabeleceu parcerias com vários agentes de intervenção local, conhecedores da realidade e dos seus munícipes, sendo imperativos na divulgação, fornecimento de espaço para decorrer a formação, articulação de horários de funcionamento para melhor servir as pessoas,..                   

        Uma das parcerias formalizadas foi com o Centro Paulo Freire em Marinhais, com a minha querida Ana Peixoto, Coordenadora, na altura, do mesmo.

       Um dia disse-me: “Preciso tanto de folhas de papel!” Daquelas que ninguém quer, que vão para o lixo, porque amarfanhadas, rasgadas, escritas de um lado e outro, ou sei lá que mais.” “Mas para quê? perguntei eu.” “Para levar para África onde vou em missão.” “As professoras aproveitam para as picotar, sem furar, ficando um alto para que as crianças cegas possam sentir e ler.”

         Se vos disser que fiquei sem chão e os olhos rasos de lágrimas, assim foi.

 

        No processo de RVCC uma das áreas de intervenção, análise, formação é a cidadania, língua, cultura, linguagem, sociedade,… Atrevo-me a dizer a vida em todas as suas dimensões, panóplias, abrangências, diversidades, vastidão. Falamos com os formandos e se soubessem, se pudessem ter visto os cadernos, folhas, revistas, jornais, livros, folhetos, panfletos,… sabiam estar perante um exemplo de democracia no que mais tem de alicercante numa sociedade: a partilha, a comunicação.

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      Na minha opinião, assim é, ao estarmos perante os pilares da comunicação, segundo o filósofo Sócrates: a verdade, a bondade e a utilidade. A democracia de dar o poder às pessoas de escolherem agir, dando utilidade a folhas, que na verdade de uns são lixo, inúteis, mas na de outros são instrumentos de trabalho, que artesãs do ensino vão moldar e transformar em letras, palavras, imagens,… Alimento para as mãos, mente, coração, espírito, aldeia, cidade, comunidade, família,…; alimento que transformou crianças em adultos, sendo alguns hoje, também eles, professores.

          E assim se espalham as sementes da aprendizagem, através do exemplo.

 

         A Confederação de Agricultores de Portugal, o Instituto de Emprego e Formação Profissional, o Núcleo de Empresas da Região de Santarém e outras instituições onde tenho trabalhado e como formadora são impactantes para mim, porque nelas encontro pessoas que veem na formação um potenciador de pessoas que sabem onde estão, podem, ou não saber para onde querem ir, podem, ou não saber como lá chegar, mas que a partir do momento que entram em contacto com a formação façamos um caminho juntos em que o processo é tão importante quanto os resultados que se alcançam.

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    É no processo que consideramos a pessoa, potenciamos a suas especificidades, encontramos oportunidades de melhoria e desenvolvimento que conduzem a resultados que podem ser de: construção, ou desconstrução, definição, ou redefinição, resposta, ou pergunta, certeza, ou dúvida, tranquilidade, ou inquietude,…

 

       Com honestidade vos digo, é-me impossível saber o impacto que a formação tem em cada um, se é que tem algum em algumas pessoas, mas sei que a aprendizagem e a relação tele, ou presencial nos permite abandonar, descobrir, construir, inventar e aproveitar caminhos que constroem pontes entre nós e derrubam muros.

 

        Termino dizendo, formar para mim é construir Pontes entre Nós tão bem escrito e descrito por Pedro Abrunhosa na música: “Pontes entre Nós.”

 

Deixo-vos a letra e tirem as vossas próprias conclusões.

Eu tenho o tempo

Tu tens o chão

Tens as palavras

Entre a luz

E a escuridão

 

Eu tenho a noite

E tu tens a dor

Tens o silêncio

Que por dentro

Sei de cor…

E eu e tu

Perdidos e sós

Amantes distantes

Que nunca caiam

As pontes entre nós

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Eu tenho o medo

Tu tens a paz

Tens a loucura

Que a manhã

Ainda te traz

Eu tenho a terra

Tu tens as mãos

Tens o desejo

Que bata em nós

Um coração

 

E eu e tu

Perdidos e sós

Amantes distantes

Que nunca caiam

As pontes entre nós

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